( O TÍTULO, É DE MINHA AUTORIA)DIRLEI RIBEIRO DE OLIVEIRA, ADMINISTRADOR DESTE BLOG.
A vida muda em São Gabriel devido à gripe A
População está em estado de alerta com a confirmação de quatro casos da doença.
Letícia Duarte leticia.duarte@zerohora.com.br
Se o risco de epidemia de gripe A é apenas uma ameaça, a situação de emergência decretada pela prefeitura desde segunda-feira desafia a rotina, as crenças e até namoros entre os 60 mil moradores.Com a confirmação de quatro casos da gripe A e um crescente número de pacientes com sintomas, que ontem aumentou em mais 17 casos, a população está em estado de alerta.
O uso de máscaras se disseminou em serviços públicos, nos bancos, em restaurantes, e o movimento nas ruas e no comércio despencou.
Mesmo quem acha exagerado o decreto que suspendeu por tempo indeterminado as aulas dos 13 mil alunos do município e proibiu aglomerações não consegue ficar indiferente a ele.Que o diga o padre Emílio Barúm.
Depois de desafiar a determinação e celebrar uma missa na catedral na noite de segunda-feira, acabou delatado pela Brigada Militar e censurado pela vigilância epidemiológica do município. Indignado com o descumprimento da ordem, o prefeito do município, Rossano Dotto Gonçalves (PDT), levou o caso ao bispo diocesano, dom Gílio Felício.
Durante a tarde de ontem, preparava um relatório sobre a situação para enviar ao superior religioso, de Bagé.
– Não é por nada que estamos tomando essas medidas, estamos tentando conscientizar as pessoas. Todo mundo está compreendendo, menos o padre. Se for por isso eu reponho as perdas que a igreja terá com o dízimo – criticou o prefeito em reunião com o secretário estadual de Saúde, Osmar Terra, e o chefe da Casa Civil, José Alberto Wenzel, enviados pela governadora Yeda Crusius ao município ontem à tarde para discutir a situação.Após a intimação e um telefonema do bispo na madrugada de ontem, o padre prometeu seguir o decreto. Como forma de protesto, negou-se a fazer missas de enterro ontem.
– Se a coisa é tão gravíssima, não pode nem ter velório. Morreu, enterrou. Nem nos tempos de ditadura nos impediram de rezar missa – protestou.Evitem os namoros, aconselhou vice-prefeitaA polêmica se estende aos relacionamentos. Em entrevista a uma emissora de rádio ontem, a vice-prefeita e médica cardiologista Sandra Weber aconselhou os jovens a evitar contatos íntimos para conter o avanço do vírus.
– É o momento de manter uma certa distância segura. O namoro pode esperar um pouquinho – sugeriu.O conselho que em outros tempos soaria moralista sensibilizou seguidores como Jamerson Figueira da Rosa, 17 anos, que ontem comprou a primeira máscara:– Estou evitando até dar aperto de mão.Proprietária de um restaurante, Noemi Andreolli chegou a pensar em fechar o restaurante da família. Os 220 almoços servidos diariamente caíram pela metade.– Parece que as pessoas estão com medo de sair. Aumentou o número de gente vindo buscar comida para levar – contou Noemi.A Câmara de Vereadores fechou, e o Fórum reduziu as atividades. Por medo, a estudante Karen Campana, 17 anos, ficou trancafiada em casa quatro dias. Aluna da mesma escola onde estuda o primeiro infectado pela doença – uma adolescente de 14 anos que até a noite de ontem permanecia na UTI do Hospital Universitário de Santa Maria – Karen só se atreveu a sair de casa quando recebeu uma máscara especial que encomendou do Rio de Janeiro.
– Só saí porque a máscara chegou.Máscaras foram adotadas como medida de prevençãoNas ruas, ficou comum a cena popularizada no México, com máscaras sendo usadas no supermercado, em passeios pelo parque, na ida ao trabalho. Exagero? Alarmismo? O secretário municipal de Saúde, Paulo Fernando Forgiarini, acha que não.
– Prefiro pecar pela prevenção. Eu fui dormir com um número de casos e acordei com outro. É um vírus novo. Quem tem autoridade suficiente para dizer que as pessoas não precisam se cuidar? – questiona.Doméstica, Jurema Toledo Rodrigues, 42 anos, nem teve tempo de se precaver. Começou a ter febre e dores no corpo no domingo, dois dias depois do início dos mesmos sintomas em um adolescente de 14 anos da casa onde trabalha, colega da primeira paciente e que teve o diagnóstico confirmado por exame na terça-feira.Após quatro dias em isolamento na Santa Casa de São Gabriel, a doméstica, considerada um caso positivo pelo município por associação epidemiológica entre os casos, teve alta hospitalar ontem. Apesar do susto, tranquiliza quem teme o vírus.
– Não é assim uma coisa de outro mundo. Parece uma gripe normal, com febre e dor no corpo. Não estou com medo nenhum. Só fiquei triste por causa do isolamento, ontem chorei um monte, estava me sentindo muito sozinha – contou, minutos antes de voltar para casa – onde deverá permanecer, com máscara, até o final da semana.Nem só os moradores foram afetados pelas agruras da gripe.
Uma das linhas de ônibus da empresa Ouro e Prata que diariamente parte de Santana do Livramento, na Fronteira Oeste, em direção a Porto Alegre teve uma mudança no itinerário. Ontem, o veículo que saiu às 12h30min não parou em São Gabriel para o intervalo de 20 minutos, praxe do roteiro. O pedido partiu dos próprios passageiros, que tiveram receio de serem contaminados.Linha de ônibus suspendeu paradas no municípioO motorista Estefanio de Souza, 34 anos, conversou com os passageiros antes de sair da rodoviária de Santana do Livramento. Ao falar da viagem, perguntou a todos se teria problema em não parar em São Gabriel. A psicóloga Maria Amélia Acauan Soares Pires, 43 anos, foi uma das pessoas que fez a solicitação. Ao embarcar no ônibus, ela perguntou para o condutor se ele iria fazer o intervalo.
– Eu brinquei que, caso ele parasse, não falaria mais com ele. No entanto, foi um consenso de todos. O motorista foi até aplaudido – conta a passageira.Com o episódio, a Ouro e Prata decidiu adotar a medida por tempo indeterminado.– Foi iniciativa dos passageiros e vamos manter a partir de hoje – afirma o gerente de tráfego da Ouro e Prata, Hugo Leal de Oliveira.
*Colaborou Ronan Dannenberg
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